segunda-feira, 15 de junho de 2009

Bambães, meu belo

Igrejinha do BambãesA capela da foto não existe mais, mas o cruzeiro bastante modificado ainda está lá. O local é conhecido como o cruzeiro de Bambães e muitas são as histórias populares sobre esse personagem. Uma das narrativas que estão no imaginário dos diamantinenses diz que certa vez Bambães foi ferido e tido como morto,mas no dia seguinte ele apareceu naquele local, fingindo estar tocando violão, instrumento que ainda não tinha, mas tinha muita vontade de tocar.

No famoso livro “ Minha vida de menina” de Helena Morley o famoso Bambães também é citado:

“Hoje andou pela cidade a passeata de Bambães. Ele põe no andor um sino todo enfeitado e sai pela rua repicando e pedindo esmolas para a igrejinha que ele está fazendo no Rio Grande. É muito engraçado. Os meninos vão atrás acompanhando, e eu acho que ele alegra muito as ruas.

Bambães é baixinho, gorducho, muito alegre e só trata todo mundo de “Meu Belo”. Todos gostam del e. Mas ninguém lhe dá esmolas, porque dizem que ele tira é para ele. Eu não creio.

Meu pai diz que é só vendo essa igreja pronta, com cem réis de cada um, é que ele acredita. Eu penso mesmo que eu não era nascida, quando Bambães começou esta capela, e, desde que eu me entendo, ela está na mesma.

Vovó é das poucas pessoas que dão esmola maior, e acha que é preciso igreja no Rio Grande. Todos dizem que não se precisa mais igreja na cidade, que já tem muitas.”

A professora Betânia Gonçalves Figueiredo do Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais também cita Bambães em seu artigo, cujo título é “Barbeiros e cirurgiões: atuação dos práticos ao longo do século XIX”.

Havia também, circulando pelas cidades de Minas, os barbeiros ambulantes. Um deles tornou-se conhecido em Diamantina também por apresentar características de détraqué. Bambães, que chamava a todos de "meu belo", é citado por dois memorialistas da cidade como sujeito simpático, que circulava pelas ruas fazendo brincadeiras e exercendo seu ofício (Morley, 1966, p. 218; Arno, 1906, p. 89). Neste exemplo, o barbeiro exercia sua atividade de forma ambulante, perambulando pelas ruas e oferecendo seus serviços.”

Com certeza, após essas ricas histórias, verdadeiras ou não, podemos concluir que Bambães foi um personagem marcante da cidade durante a passagem do século XIX para o XX e que precisa ser reasgatado. Caso você conheça alguma outra narrativa, envia para passadicovirtual@gmail.com.

Foto: arquivos do Zé da Sé

Um comentário:

  1. Achei o relato "Bambães, meu belo" muito interessante e instrutiva: pela importância de resgatar e relembrar os personagens que constroem o imaginário da cidade, evidenciando o fato de quem o constrói nem sempre são os poderosos, a tal "elite". Lembra-me o grande dramaturgo Bertold BRECHT, que em um de seus poemas perguntava:"Para onde foram os pedreiros que construiram a Grande Muralha da China?"
    O testemunho de H. Morley e a fotografia apresentadas atestam a veracidade do personagem e ao mesmo tempo a força das ações bem intecionadas e coletivas, no caso a construção da igreja em um local afastado, que demandava, certamente, um local para expssão da fé de seus habitantes.
    Ficou uma curiosidade: quem é o Arno, 1906, citado pela historiadora em sua citação.

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