terça-feira, 28 de setembro de 2010

As mulheres unidas de São Gonçalo do Rio das Pedras

Fonte: Alexandre Lucas Coelho, Jornal Público, Portugal

Se o rapaz desconhecesse o Brasil o elogio podia não querer dizer muito. Mas ele é biólogo, vem da Amazónia, conhece o nunca-visto. E quem faça a estrada de Diamantina para São Gonçalo do Rio das Pedras só pode concordar: há-de ser das mais bonitas do Brasil, apesar de difícil, ou também por isso. Trinta e dois quilómetros aos balanços num caminho de montanha, terra e pedras. Quase duas horas, se o tempo ajudar. E no fim, essa outra recompensa, São Gonçalo: cachoeira, cavalos pelas ruas, igrejas que parecem casas, pequenas pousadas rurais, uma siriema de bico vermelho a caminhar, pernalta, indiferente.
É assim que a aldeia acorda, quando não é o galo é a siriema. E mesmo depois de tantos meses sem chuva, tudo parece pujante, ipês, buganvílias, orquídeas, bananeiras, ou árvores de que a Europa nunca terá ouvido falar como a mutamba, a macaúba, a pacari ou a amesca.
São justamente estas árvores que dão força às mulheres unidas de São Gonçalo. Porque o lugar é remoto e lindo, mas dentro de casa muitas vezes é só escuro: álcool, violência, abuso.
E sabem em quem vão votar estas mulheres? Lula não gostaria da resposta. Lá chegaremos.
A união tem um nome: Flor do Cerrado. Uma casinha de portadas abertas, numa calçada de São Gonçalo. A esta hora, quatro da tarde, está quase vazia, porque as mulheres ainda andam nos seus trabalhos. A excepção é a mestiça Nelma, que já despejou champôs e amaciadores nos frascos e agora cola rótulos. Mutamba para cabelos normais, macaúba para cabelos secos, pacari para cabelos oleosos, amesca para esfoliar.
As 30 mulheres da Flor do Cerrado fazem cosméticos com as plantas da região. Foi o que puderam inventar num lugar tão pequeno que nem se nasce mais aqui.

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