domingo, 27 de novembro de 2011

Com R$ 10 mil, o diretor Ernane Alves filma sonhos e a esperança dos moradores do Vale do Jequitinhonha

Fonte: Estado de Minas (Clique aqui)

Com alguma desconfiança, o ator e diretor Ernane Alves, de 34 anos, informa: o filme Cinema vale sonhos, em cartaz hoje, às 19h, no Sesc Palladium, custou R$ 10 mil. O receio tem motivo: ele teme o preconceito em relação à sua obra.

O orçamento curto se deve ao fato de Ernane ter se encarregado de praticamente todas as tarefas no set. Aproveitou as horas de folga, em meio a um trabalho de encomenda no Vale do Jequitinhonha, parafilmar moradores da região que nunca foram ao cinema. Eles falaram de sonhos e de filmes.

A ajuda de amigos facilitou a finalização, a arte e a trilha original de Cinema vale sonhos, assinada por Bruno Tonelli, do grupo Sete Estrelas. Mas a grana curta prolongou o processo. As imagens foram gravadas em 2007 e o trabalho só ficou pronto em 2010.

Ernane pretende lançar seu filme em salas dedicadas ao cinema de arte. “Fui tocado profundamente por aquela realidade”, conta o diretor. Ele se emocionou ao ver crianças, adolescentes, adultos e idosos sonhando com uma vida melhor, com a casa própria e até em deixar o Vale do Jequitinhonha. “Eram histórias não muito diferentes das que ouvi de meus pais e avós, também gente da roça”, observa. “É papo reto, simples, muito sofisticado e amoroso de gente pobre que encontra modos de ajudar os outros, ainda mais pobres”, acrescenta.

Selva  Ernane convida o espectador a conferir o seu trabalho. “Gostaria muito que o vissem. Quem mora na selva de pedra acha que gente humilde não tem cultura, mas não é assim. Aquelas pessoas têm sabedoria, cada encontro foi uma lição de vida para mim”, garante.

Cinema vale sonhos tem humanidade e verdade, assegura o diretor. “Fiz um filme sobre os esquecidos pelo cinema”, resume. Há quem veja nele estética próxima ao neorrealismo dos italianos dos anos 1940. Recém-saídos da 2ª Guerra, aqueles cineastas produziram filmes baratos e diretos.

O trabalho de Ernane circulou por festivais, mas ainda não chegou às salas de exibição. “Estou aprendendo a ter paciência”, brinca ele, que está tocando novos projetos. Vai filmar a vida da escritora Helena Jobim, irmã do autor de Garota de Ipanema, e planeja uma fita sobre a bossa nova em Minas Gerais. Ernane já filmou a Trilogia do tédio, que reúne os curtas Cinco minutos do meu pensamento, Crunch e Clash.

 

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